sábado, 8 de julho de 2017

Entrevistas: Pelo orgulho de sermos o que somos!

Para refletirmos sobre o orgulho e as questões que envolvem as pessoas LGBTI   conversamos com Priscila Tomas. Mineira de Belo Horizonte com seus 26 aninhos, ela desde de sua adolescência vem militando pelos direitos humanos. Contundente e carismática, Priscila é formada em pedagogia, atua como educadora social e carrega consigo muitos adjetivos:  É Mulher, Jovem, Negra, Periférica, Lésbica, Atriz e se reconhece como muito mais que isso.  Veja abaixo nossa conversa.

Campanha ANA: Priscila, você é uma militante aguerrida. Desde quando as pautas em que você atua seja como militante ou profissional se tornou uma vivência efetiva na sua trajetória?  E o que te motivou a levantar essas bandeiras? 

Priscila Tomas: Aos 14 anos de idade, após participar de vários processos de discussão e formação nos movimentos sociais e organizações, comecei a me identificar como sujeito de direitos e deves.  Desde desta época atuo na militância contra a violência sexual contra crianças e adolescentes. E atuar e defender os Direitos Humanos pelos vários espaços que participo e relações que vou tecendo seja elas de relações afetivas com amigos, família, comunidade ou nas relações profissionais e no próprio movimento vejo que essa militância não se separa, faz parte de mim.   É por isso que por onde vou carrego essas bandeiras não só pelo enfrentamento a violência sexual, como também contra o genocídio da juventude negra, o machismo e a lgbtfobia.  Até por que me reconheço em várias destas lutas e por isso afirmo todas as questões que me fazem ser quem eu sou  como me descrevi na pergunta anterior.

Campanha ANA: Na sua concepção há motivos para se orgulhar de identidades lgbts no Brasil? Quais fatores facilitam e quais dificultam? 

Priscila Tomas: No nosso país, temos tido muita dificuldades de se orgulhar, várias pesquisa mostram como pessoas LGBTI sofrem vários tipos de violências física, psicológicas ou são assassinadas por demostrarem seu amor. Contudo acredito que por mais difícil que seja, é possível se
orgulhar.  Há alguns fatores como algumas conquista de direitos que nossa comunidade LGBTI tem
conseguido, claro que ainda há muitas lutas para que termos acessos que ainda são privilégios das pessoas heterossexuais.  E o movimento como qualquer outro de defesa dos direitos enfrentam muitas questões, mas tem se fortalecido a cada ano, e isso ajuda a crescer e a criar uma cultura de respeito e também de orgulho.   As dificuldades   para se orgulhar é sistêmica, tem haver com a educação moralista que recebemos desde muito cedo... Que tem seus pilares no patriarcado e na heteronormatividade que há anos vem alimentando as desigualdades e os padrões sociais.

Campanha ANA: No Brasil segundo levantamento do Movimento Gay da Bahia é um pais onde mais se mata pessoas lgbt.   O que está por de trás de tanta lgbtfobia?  

Priscila Tomas: A nossa sociedade não foi educada a conviver com a homossexualidade dentro da sua amplitude. Perpetuamos em nossas crianças que existem apenas homens e mulheres, ou seja, tudo o que for contrário a isso é anormal. E isso cria um cenário de permissividades.  É aí nesse cenário onde a LGBTFOBIA encontra um terreno fértil, afinal somos Educados a rejeitar e a eliminar tudo que consideramos anormal é isso que está por trás de todos os assassinados das pessoas LGBT.  Falta amor, falta respeito, falta reconhecer que somos diversos na nossa forma de existir. 

Campanha ANA:  Na sua concepção, onde devem ser feitas intervenções para erradicar a lgbtfobia?

Priscila Tomas: São muitos os lugares onde deve ser feito as intervenções, na educação seja ela na escola, seja ela dentro das várias configurações  familiares; Nas religiões sobretudo a católica e protestante que pregam um modo  de se relacionar  e de amar heteronormativo;   nas corporações policias,  nos docentes, enfim  são  muitos  lugares  que  precisam parar de enxergar as pessoas LGBTIs como minorias e começar a vê-las como uma grande massa que atua, consome, pensa, trabalha e que não é diferente de nenhum outro cidadão.    

Campanha ANA: Você acha que crianças e adolescentes tem tido o direito de exercer orgulhosamente suas identidades sexuais e de gênero nas organizações que atendem a crianças e adolescentes?  Por que isso acontece?

Priscila Tomas: Penso que nem tanto.  A grade maioria das organizações sociais que atendem as crianças e adolescentes, tratam tudo num balaio só.   Ou seja, tratam todas as questões que envolvem a sexualidade   vinculadas a identidade de gênero. Os processos formativos que muitas adotam no seus atendimento acabam que reforça a educação para meninas e para meninos, reforçando assim   uma cultura de preconceito e discriminação.  Poucas organizações estão de fato preocupadas ou preparadas para mudar esse paradigma.   E isso acontece porque muitas vezes as questões relacionadas ao desenvolvimento da sexualidade, é tratada como tabu e qualquer criança ou adolescente que apresenta um comportamento diferente do que se espera dela, é vista como algo errado.  E algumas organizações superprotegem meninas e meninos que tem comportamentos que não são heterossexuais, reforçando nas entre linhas que como esse comportamento é diferente da norma, está sujeito a violências das outras e dos outros colegas, e acabam que não discute ou empodera essas crianças e adolescentes para se sentirem orgulhosas para ser e se comporta da forma que se sentem bem.  E quando essa discussão é cerceada, de alguma forma pode afetar radicalmente a forma com que as nossas crianças e adolescentes enxergarão o mundo no presente e no futuro e as pessoas que nele vivem.

Campanha ANA: Como podemos avançar para um maior reconhecimento das identidades lgbts na instituições brasileiras?  


Priscila Tomas:  Avanços serão dados quando de fato a discussão sincera sobre sexualidade, identidades e LGTFOBIA for matéria obrigatória nos currículos escolares. Acredito que a educação é um caminho seja elas nas instituições formais, seja em outros processos educacionais. Outro caminho é que as pessoas LGBTIs sejam fortalecidas para assumir suas identidades sexuais e de gênero nos ambientes que frequentam. A indignação também é um outro caminho, pois é preciso que as pessoas de diferentes gerações, orientações sexuais e religiosidades sintam-se indignadas quando ocorrer uma violência contra pessoas LGBTIs seja qual for a forma. Aí sim penso que estaremos avançado.  


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